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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

Foto e biografia: wikipedia

 

 

 

MICHAEL GOLD

 

 

(12 de abril de 1894 - 14 de maio de 1967) era o pseudônimo do escritor judeu americano Itzok Isaac Granich . Comunista ao longo da vida , Gold foi romancista e crítico literário. Seu romance semiautobiográfico Judeus sem dinheiro (1930) foi um best-seller. Durante as décadas de 1930 e 1940, Gold foi considerado o autor e editor proeminente da literatura proletária dos Estados Unidos .

 

 

 

 

MONIZ, Edmundo.  Poemas da Liberdade - uma antologia poética de Dante a Brecht.    Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,  1967.   116 p.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

NA CELA

 

 

Cinco robustos detetives encontram-se na cela com um preso
E — por Deus! estão certos de que o obrigarão a falar!
 Caem-lhe em cima cegamente, furiosos
como lóbos famintos sôbre a presa.
Estão aflitos.

Não há bastante espaço para êles na cela escura.

As roupas pesadas os atrapalham.

Seus alvos colarinhos os incomodam.

Gruem, suam, praguejam,

enquanto seus cassetetes sobem e descem.

Cinco robustos detetives encontram-se na cela com um prêso.

 

Torcem raivosamente os braços do prêso para trás

até os ossos estalarem.

Batem-lhe na fronte com os cassetetes

e dão-lhe pontapés nas costelas.

Caminham sôbre sua espinha dorsal,

achatam-lhe o nariz.

Cinco robustos detetives encontram-se na cela com um prêso

Por Deus! Estão certos de que o obrigarão a falar!

 

A lua branca e inocente surge, mas logo desaparece,

percebendo que não é necessária.

Um táxi roda pela rua com uma jovem ébria

que ri para o homem que a acompanha.

Um guarda tilinta suas chaves no corredor.

O bico de gás assobia baixinho uma canção nostálgica.

 

Os detentos deitam-se de costas
e sonham que estão novamente em suas casas.
E na cela cinco detetives interrogam o preso,
dizendo-lhe — por Deus! — que ele tem de falar.

 

Oh! aqueles cassetetes, os pesados sapatos,

os punhos de Judas impelem o prisioneiro a falar.

E seu coração esfacelado grita-lhe que ele deve ceder.

E seu corpo sangrando estremece

como a criança assustada por um rato: — Fala!

E seu cérebro arde de agonia e grita: — Fala! Fala!

E seu sangue segreda:

—Tua esposa te espera! Basta apenas falar!
E o mundo todo brada

como um milhão de vozes selvagens aos seus ouvidos:

—Oh Jesus! Fala, homem! Mas o preso não quer falar.

 

É uma noite de paz na cidade.
Casais em idílio

passeiam pelas ruas quentes de verão.

Policiais postados em cada esquina

sob os altos postes de luz

balançam seus cassetetes distraidamente.

Os pastores pregam na freguesia

e o prefeito bebe limonada num jardim de verão.

Juízes leem em voz alta os poetas para as esposas

após um dia cansativo no Tribunal.

 

Amantes sentados juntos no cinema

estremecem quando no escuro os seus corpos se tocam.

Mães acalentam os filhos

enquanto os pais fumam o cachimbo familiar.

Há um milhão de lares tranquilos

que os relógios regulam com seus tiquetaques.

E cinco robustos detetives encontram-se na cela com um preso.

Os cassetetes sobem e descem.

Os tacões de ferro se estampam no rosto do preso.

Os detetives já têm rasgados os colarinhos.

O preso fecha os olhos por um momento

e vê milhares de estrelas que brilham no universo da dor.
Morde os lábios até sangrarem, afirmando que não falará.
Jura com a boca sangrando

que o mundo da exploração e da opressão não pode dominá-lo

e os cinco robustos detetives

que se encontram com ele na cela

nunca o obrigarão a falar!

 

 

 

 

 

Página publicada em outubro de 2020

 


 

 

 
 
 
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